sexta-feira, 5 de março de 2010

Crianças estão aprendendo idiomas cada vez mais cedo




Em uma mansão, Benjamin, de 2 meses, recebe mimos dos pais, a top model brasileira Gisele Bündchen e o jogador de futebol americano Tom Brady. A família mora em Nova York. Gisele torce para escutar do bebê um resmungo de "mamãe" enquanto Brady deseja ouvir "dad". Em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, a top gaúcha revelou que irá falar apenas em português com o filho; e o pai, só em inglês.
Na esteira das celebridades, cada vez mais pais, mesmo brasileiros, optam pelo ensino bilíngue para facilitar na formação dos filhos. Com apenas alguns meses, segundo os especialistas, um bebê já consegue assimilar a fonética de vários idiomas. Nos países da comunidade europeia, por exemplo, é comum a população falar ao menos dois idiomas, em geral a língua materna e o inglês.
Segundo levantamento feito pela Escola Cidade Jardim Play Pen, houve um aumento de 24% no número de pais brasileiros que buscaram escolas desse segmento para seus filhos, entre 2007 e 2009. A razão? De acordo com o diretor pedagógico Lyle Gordon French, os pais esperam que os filhos recebam um ensino que os possibilite a optar por estudar e viver fora do País futuramente.
Até o tradicional colégio Dante Alighieri se rendeu ao ensino bilíngue. Desde o ano passado oferece high school (ensino médio em inglês). Pentágono e Magno fizeram o mesmo.
De acordo com a coordenadora pedagógica Denize Andreoli, da escola Green Book, 90% dos pais que optaram por essa escola do Brooklin, na zona sul da capital paulista, são brasileiros. "Muitos pais tiveram dificuldade de aprender inglês e não querem que isso aconteça com os filhos."
Por opção dos pais, Patrícia Sako Chikaraishi entrou nos cursos de inglês e japonês aos 11 anos. Mais tarde, se casou com um japonês. Hoje, aos 37 anos, com medo que a filha Ayumi Lissa, de 5 anos, não aprendesse um terceiro idioma, além do português e do japonês, Patrícia a colocou numa escola bilíngue. E, se até uns 12 anos a fluência de Ayumi se estabelecer, a mãe pretende colocá-la em um curso de espanhol.
O aprendizado de três línguas se repete na família indiana Lamba. Há 14 anos no Brasil, os pais de Mannat, de 3 anos, não hesitaram em optar pelo serviço diferenciado para a menina. "Ela fica confusa, às vezes mistura as línguas, mas está aprendendo. Com as babás ela fala português, com os irmãos inglês e comigo hindi (dialeto indiano)", diz a mãe Preeti Lamba, 35 anos.
Ainda mais precoce, com apenas 2 anos, Lissah Kaelin Lu pronuncia com facilidade, segundo a mãe chinesa Priscila Huanglu, de 34 anos, mandarim, português e inglês. "Se não investir agora de pequeno depois vou gastar muito mais", acredita a mãe.
Por enquanto, ainda é muito caro estudar nesse tipo de escola. "Mas é um bom custo benefício", afirma Mônica Morejon, presidente da Organização das Escolas Bilíngues do Estado de São Paulo. Já existem colégios na capital com mensalidades por volta de R$ 1 mil. "Ao invés de pagar o colégio, mais os cursos de vários idiomas e outras atividades, você pode centrar o gasto na escola bilíngue."
Esse segmento, segundo a educadora Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é muito procurado por pais que viajam com frequência.
Essa é a realidade do casal argentino Maria Cecília, 38 anos, e Adrian De Grazia, 37. Eles estão há cinco anos no País, mas já cogitam se mudar. Por isso, Camila, de 9 anos, e Nicolas, 5 anos, estudam em colégio bilíngue. "Camila teve dificuldade em aprender, mas agora, se o meu marido for transferido pela empresa ela está preparada", conta a mãe.
Pelo mesmo motivo, a brasileira Laura, 35 anos, casada com o americano Troy Lafayette, 38 anos, levou o filho Julian, de 3 anos, para um colégio bilíngue. Em 2011, Laura poderá ser transferida pela empresa para os Estados Unidos. "Se ficarmos no Brasil o meu maior medo é escolher o idioma que ele vai aprender as matérias básicas, como matemática."
Nessa idade, segundo a educadora Denize Andreoli, os pais devem escolher se o aprendizado de matemática ou história, por exemplo, será em português ou inglês. Outro cuidado, segundo Quézia, é observar o conteúdo pedagógico. "Se os filhos tiverem de estudar depois em um escola tradicional brasileira, muitas vezes os alunos estarão defasados em relação ao conteúdo, já que as bilíngues não seguem as diretrizes estabelecidas pelo MEC (Ministério da Educação)."
BOXE
CUIDADOS
- O contato em excesso com outras culturas pode fazer da criança um estrangeiro dentro do próprio país ou escola.
- Algumas escolas preservam o currículo e o período letivo dos Estados Unidos. Isso pode atrapalhar a transferência da criança para um colégio comum.
- Algumas crianças podem apresentar dificuldade em absorver o idioma. Caso o problema persista o melhor é tirá-la da escola.
- No caso de pais brasileiros é preciso que a prática da língua inglesa, ou outra ensinada no colégio, seja praticada fora do ambiente escolar. Caso contrário a criança esquece o conteúdo e ‘trava’.
- Pais e mães de nacionalidades diferentes devem falar com o filho somente a língua de origem para que a criança fixe o bilinguismo.
- Ao escolher uma escola os pais precisam ficar atentos ao currículo dos professores. Profissionais graduados em pedagogia ou letras tem mais destreza para ensinar. Não basta só ter conhecimento de idiomas é necessário didática.
BENEFÍCIOS
- Nos primeiros 7 anos de vida uma elasticidade mental favorece o aprendizado do segundo idioma. Independente da idade, a criança é capaz de aprender a reconhecer os sons próprios de um idioma.
- Quanto mais nova a criança, ela tem menos chances de adquirir sotaque e vícios linguísticos do idioma que está estudando. A segunda língua também deixa o cérebro da criança mais ágil.
- Escolas bilíngues proporcionam contato com crianças estrangeiras, músicas, vídeos e professores nativos. A experiência capacita o estudante para no futuro viver ou trabalhar no exterior.
- As colégios desse segmento contam com atividades extracurriculares como aulas de teatro e culinária e funcionam em período integral. Os pais podem dispensar o serviço de babás e a busca por outras atividades.

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