terça-feira, 15 de setembro de 2009

Qual a melhor idade para aprender um idioma?


Qual a melhor idade para aprender um idioma?

Anelise Zanoni
anelise.zanoni@zerohora.com.br


Trocar uma letra por outra na hora de digitar uma palavra rendeu uma longa discussão na internet no último mês sobre o poder que uma língua estrangeira pode ter no nosso português. O episódio envolvia a apresentadora Xuxa, que alegou que o erro da filha, Sasha, ao escrever para o Twitter se originava no fato de a menina ter sido alfabetizada em inglês. Se é uma justificativa razoável, será que vale a pena colocar uma criança em contato com outro idioma desde muito pequena?Especialistas afirmam que sim, mas é preciso sempre ter bom senso e não colocar um excesso de expectativa nos filhos. Na prática, não existe uma idade exata para que as crianças aprendam mais. O que se sabe, de acordo com a neuropsicóloga Mirna Wetteres Portuguez, responsável pela Unidade de Neuropsicologia do Hospital São Lucas, é que, devido à plasticidade cerebral das crianças (ou a capacidade de o cérebro mudar estruturas e conexões), um segundo idioma pode potencializar parte do cérebro ligada à fluência verbal.Esta fase de absorção de conteúdos, como se o cérebro fosse um computador vazio, à espera de informações para ser preenchido, ocorre geralmente até os cinco anos. Ou seja, para que a criança não tenha o sotaque da língua materna na hora de falar outro idioma, é interessante que comece o contato com a língua estrangeira cedo.

– Crianças com atraso na linguagem também são beneficiadas com a aprendizagem de um idioma, o que pode ajudar a formar novos caminhos no cérebro que vão facilitar e ajudar nas habilidades – explica Mirna.

A absorção rápida do cérebro e o contato intensivo com a língua estrangeira fazem com que a criança até mesmo pense em outro idioma, o que pode trazer erros para o português, como foi o caso de Sasha.

– Aqueles que vivem em imersão total podem, por exemplo, escrever em inglês melhor do que em português. Podem esquecer acentos, trocar palavras e ter mais fluência no outro idioma – explica Maria Ilma Volkmer, diretora do Programa Brasileiro da Escola Pan-Americana.

Mas quem não tem interesse ou condições de colocar os filhos desde muito cedo nas escolas de idiomas ou bilingues, não precisa se decepcionar. Apesar de o cérebro se comprometer mais com a língua materna conforme o tempo passa, crianças com mais de seis anos e adolescentes continuam tendo mais facilidade de aprender do que os adultos. Assim, aqueles que iniciam um curso de francês aos 10 anos não fica em desvantagem com aquele que começou aos sete. Tudo depende de motivação e incentivo. Além disso, os pais não podem pressionar a garota a fazer aulas que não gostam.

– A garantia da fluência ocorre porque a criança tem mais facilidade, e seu aparelho fonológico não está formado ainda. Entretanto, os pais precisam avaliar se o curso de idiomas não é apenas mais uma atividade para estressar a criança – diz Denise Sinibaldi, professora de inglês.Deixe a ansiedade de lado e escolha a escola ideal.


Decidir que o filho vai estudar outro idioma não é difícil

O desafio é saber escolher a escola ideal. De acordo com Luciani Salcedo de Oliveira Malatér, coordenadora Núcleo de Estudos em Língua e Literatura Inglesa (Nelli) da Universidade Federal do Rio Grande, os pais devem avaliar a formação do professor, o material didático, a metodologia de ensino e a quantidade de alunos em sala de aula.

O trabalho com crianças também precisa ser especializado, com textos literários que envolvam os pequenos e despertem a imaginação. Além disso, pais e mães devem deixar a ansiedade de lado e não insistir para que a criança tenha uma fluência em língua estrangeira assim que ingressa em uma escola. Separamos algumas dicas importantes nesse processo de aprendizagem que envolve pais e filhos:


SAIBA DESCONFIAR– Na hora da escolha, descarte cursos que prometem aprendizagem instantânea, em um ano ou menos. Aprender uma língua estrangeira é um processo gradual, que requer continuidade e nunca termina, sobretudo no caso de crianças e adolescentes.– Fique em dúvida com escolas que se preocupam mais em apresentar a estrutura física do que explicar seu projeto pedagógico e sua metodologia. Também evite os cursos que insistem no pagamento do valor integral das mensalidades logo no primeiro mês _ a não ser que se trate de uma instituição conhecida e de tradição.


CONHEÇA O PROFESSOR

– A graduação em Letras é a mais indicada para os professores, mas há bons profissionais no mercado vindos de outras áreas. No entanto, a realização de um curso complementar em ensino de idiomas é essencial. Cursos no Exterior também são interessantes para a formação do docente.

– Observe que nem sempre um professor que teve vivência em outro país ou é nativo da língua que ensina tenha didática e competências para ensinar. O profissional precisa saber conduzir o processo de aprendizagem.

– O bom professor é aquele que consegue dosar bem o uso da língua materna, incentivando o estudante a substituí-la aos poucos pelas novas estruturas e pelo novo vocabulário. Um curso que desde o primeiro instante use apenas a língua estrangeira pode provocar uma sensação de frustração no aluno, que irá associar o estranhamento natural do aprendizado a uma incapacidade sua de compreender ou se comunicar em outro idioma.


INVESTIGUE A DIDÁTICA

– Algumas escolas, sobretudo as franquias, anunciam uma metodologia própria de ensino, característica que você deve observar bem. O investimento em um método exclusivo torna-se, muitas vezes, um entrave para que a escola promova modificações ou modernizações, já que os custos de elaboração e impressão do material didático tornam-se elevados e podem inibir futuras alterações substanciais.

– Línguas como o inglês e o espanhol têm sempre novos lançamentos em material didático, mais modernos e bem elaborados. É vantajoso optar por uma escola que adote livros de editoras e autores renomados.Tarefa de pais e filhosPara aprender, crianças e adolescentes precisam de interesse, e os pais, de controle das expectativas.Os pequenos devem se envolver em um contexto de aprendizagem lúdica, com brincadeiras, leituras, filmes e atividades práticas. Os adultos precisam saber que um curso de idiomas poucas vezes vai fazer com que o aluno fale e escreva como um nativo do idioma.

– Um brasileiro pode ter alta proficiência, mas nem sempre isso pode ser garantido na infância. É preciso ter paciência e não obrigar as crianças, afirma Luciani Salcedo de Oliveira Malatér, coordenadora Núcleo de Estudos em Língua e Literatura Inglesa (Nelli) da Furg.

Outro fator importante na hora de aprender é saber escolher uma instituição de ensino e conhecer a formação dos professores.

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